O velho new look de Dior
Programa de Mestrado e Doutorado em Psicanálise, Saúde e Sociedade (2022)
Palavras-chave:
espartilho, New Look, traumático, genocídio, mulheresResumo
O New Look de Dior foi criado em 1947 e ressuscitou o espartilho que havia caído em desuso na primeira década do século XX. Tal peça apertou os corpos das mulheres durante séculos gerando dificuldade de movimentação. Assim sendo, o New Look não podia ser novo. Por conseguinte, graças ao estranhamento causado por seu título de new
e com o intuito de compreendê-lo melhor, atentou-se, nesta pesquisa, para a data de seu lançamento, logo após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e observou-se que algo inédito aconteceu nessa batalha: o crime de genocídio. Esse era um crime novo, sem nome. Tal denominação foi criada para chamar esta nova forma de assassinar. Ou seja, o crime de genocídio estava fora do simbólico, isto é, ainda não podia ser tratado por meio da linguagem, sendo, portanto, captado como traumático, como excesso a ser elaborado e como ponto de não retorno. Uma ruptura que modifica a vida: nada mais será como antes. Desse modo, poderia se considerar que o novo é o traumático. Neste estudo, então, tratou-se do traumático, portanto do novo, como transformacional. A partir daí,
questionou-se se o New Look, com seu apelo ao passado sob a forma de espartilho, e por conseguinte algo já conhecido, foi uma das respostas possíveis a tal evento, dado que resgatar o passado seria uma resposta ideal e a repetição uma tentativa de controle do fato traumático. Optou-se, inicialmente, por desenvolver uma musculatura teórica que abarcasse a história do espartilho; a França sob ocupação nazista e as exigências feitas às mulheres antes, durante e depois da guerra; a Alta Costura, forte representante da cultura francesa, que sofreu tentativas de roubo pelos nazistas; o New Look e seu criador. O estudo do traumático na teoria psicanalítica, seguindo a obra freudiana, o ensino de Jacques Lacan e a leitura de Colette Soler, forneceu elementos fundamentais para embasar esta pesquisa. Efetuou-se uma reflexão sobre como responder a esse novo, real que invade o simbólico. Uma investigação do genocídio perpetrado pelos nazistas e das particularidades de tal evento foi baseada em autores como Hannah Arendt e Primo Levi. A mulher, na cultura e, mais especificamente, na psicanálise, acompanha todo o trajeto, às vezes de forma discreta, às vezes de forma explícita. Tratou-se, ainda, da circuncisão como um tipo de correlato à castração que gera horror e crimes sinistros. Com este trabalho, espera-se contribuir para diálogos interdisciplinares bem como favorecer diferentes perspectivas do e no campo da moda.
Acesso ao texto:
https://drive.google.com/file/d/1XKNehyk73fRY-GqYA7PRP3Tn3CdHtYYU/view?usp=drive_link